Foto: Daniel Miranda

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

FILHOS ÚTEIS



FILHOS ÚTEIS

A Lei manda que todos os estabelecimentos comerciais: bancos, supermercados, etc. mantenham caixas específicos para idosos, grávidas e deficientes físicos.
Comumente, encontramos placas indicativas informando além das três condições acima também a de "mulheres portando crianças de colo".
Precisando liquidar de vez com as parcelas do IPVA 2010, entrei em uma dessas filas, atrás de três mulheres reconhecidamente idosas.
Não entendo porque as mulheres, que tanto gostam de esconder a idade, nesses momentos apresentam-se destituídas de quaisquer artifícios que possam mascarar a verdadeira DNA (Data de Nascimento próxima ao Armistício) não o da primeira, mas o da segunda guerra mundial. Será para não serem instadas a apresentar documento comprobatório de sua condição de idosa?
Enquanto meu queixo descansava sobre o cabo da bengala compulsoriamente utilizada para amenizar os efeitos de um provável rompimento de menisco, notei que uma mulher, com idade próxima à casa dos primeiros entas, ocupava meu futuro guichê, enquanto outra passeava nervosamente pelo recinto do banco, com uma criança em cada braço.
Bastava olhar as inocentes para ver que não eram gêmeas. Uma era visivelmente mais velha e se parecia com a mulher que a carregava na sinistra, enquanto a outra, com aproximadamente dez meses, era amparada pela destra.
A fila única, dos demais clientes caminhava com a esperada normalidade: seus componentes, seguindo o traçado do chão, ora ficavam de frente para os idosos sentados contra a parede, ora ficavam de costas, mostrando que a moçoila de vestido longo possuía um trejeito e uma ondulação corporal apreciável cada vez que trocava a perna de descanso.
O que intrigava, entretanto, era o meu esperado caixa estar demorando tanto a atender a primeira das três idosas à minha frente.
A mulher com as crianças também sentia a demora e sentou-se ao meu lado. Claro, não havia braços, por mais treinados que fossem, que agüentassem tanto tempo a inquietude delas.
Passado um bom tempo, a mulher que estava sendo atendida, juntou seu calhamaço de documentos autenticados, colocou-os na imensa bolsa, que só então percebi entre seu corpo e o balcão de atendimento e dirigiu-se à mulher das crianças, pegando a sua nos braços.
Foi aí que entendi a jogada: ela e, provavelmente a secretária, foram juntas ao banco levando as crianças, para usufruírem do atendimento prioritário.
Como vingança por ter ficado em colo alheio durante tanto tempo, a menininha, ao ser colocada com o rosto sobre o ombro desnudo da mãe, vomitou-lhe as costas, levando um imerecido safanão, enquanto desapareciam pela porta giratória.

Pereira.

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